segunda-feira, 3 de maio de 2010

Anita para lá do arco-íris

Toda a gente me chama de Anita. Tenho 22 anos e vivo em Portugal.
A maneira mais poética de falar sobre mim é dizer algo do género "estou a aprender a ser eu" ou " estou em busca do meu caminho", mas isso soa-me demasiado sensato e organizado para descrever a minha vida.
Na realidade o que me vem à cabeça é mesmo algo muito menos filosófico: " Olá, eu sou a Anita e estou a tirar o curso de lésbica". Parece ridículo, mas é verdade.
Tinha para aí os meus 14 anos quando me apercebi que algo não batia certo na maneira como era suposto eu viver a minha vida. Não sabia o que estava a incomodar-me na altura, apenas me sentia frustrada por não ter nada para falar com as minhas amigas quando elas desatavam a falar dos rapazes de quem gostavam.
O tempo foi passando e eu comecei a ficar preocupada. Será que eu nunca ia apaixonar-me como todas elas? Porque é que eu nunca sentia aquelas coisas fantásticas que lia nos livros?
Eu tinha amigos e gostava deles de uma forma amigável... mas nunca nada mais. Se calhar eu não funcionava como deve de ser.
Quando tinha 17 anos desisti e decidi que se calhar toda aquela conversa de amor, paixão, romantismo... era apenas ficção, um faz de conta em que toda a gente alinhava e eu não queria ficar de fora... Eu também era capaz de fingir que via corações cor de rosa a flutuarem por aí.
Bom... isto não resultou lá assim muito bem e depois de uns 3 meses de beijos muito desajeitados e longos momentos de silencio constrangedor o meu "namorado" disse-me que sentia que eu não estava assim muito interessada nele, que não havia química e sugeriu que fossemos só amigos.
Hoje diverte-se imenso a mandar-me à cara que ele soube muito antes de mim que eu era lésbica, o ranhoso. :P
Depois disso desisti. Decidi que me ia concentrar noutras coisas e que quanto o "príncipe encantado" me aparecesse as coisas iam ser diferentes.
E lá estava eu, a viver a minha vidinha pacificamente até este ano.
Quando mudei para a minha casinha tive de mudar de piscina também porque aquela onde ia antigamente fica em cascos de rolha comparado com a minha morada actual... e esta nova piscina tem muito menos cabines individuais. Ora, eu sempre fui tímida, nunca percebi aquela história de que " ah.. são todas raparigas por isso não faz mal nenhum tomarem todas banho no mesmo sítio" por isso tento sempre que possível ir para uma das cabines. Infelizmente agora é raro apanhar uma livre e foi assim que reparei que andava a olhar para as outras raparigas.
"É perfeitamente normal", pensei eu... " olhas para elas porque as achas bonitas, mas naquele sentido de ai-eu-também-queria-que-as-minhas-pernas-fossem-assim"... pois, isto parecia-me plausível até aquele dia...
Foi numa Quinta-feira e eu estava a segurar o meu cachecol com os dentes enquanto tentava encontrar o cartão da piscina dentro da minha mala sem deixar cair a minha sandes ao chão e ela sorriu para mim e tirou-me o cachecol da boca. Tinha um sorriso bonito... Depois como eu ainda continuava um bocado atrapalhada a equilibrar a sandes e a mala para tirar de lá o cartão que miraculosamente se tinha eclipsado por entre a restante tralha ela agarrou-me no lanche e perguntou se podia roubar uma trinca.
Ela estava apenas a ser amigável mas por alguma razão eu comecei a ficar mesmo muito nervosa.
Finalmente entrámos para os balneários e, como é óbvio, todas as cabines estavam ocupadas.
Pronto. Caldo entornado. Ela começou a despir-se e o meu coração decidiu tentar ultrapassar um qualquer record de velocidade,
Eu não queria olhar para ela.. eu queria tocá-la, sentir quão macia era a sua pele.. lá estava, aquilo que eu já achava que era incapaz de sentir, fogo, desejo... ia tendo um ataque cardíaco.
Entrei em pânico. Mesmo... do tipo de agarrar nas minhas coisas todas muito atabalhoadamente e sair a correr de lá para fora.
Senti uma mistura de profundo terror misturada com alívio absoluto.
"Oh meu deus... eu gosto de gajas!!!" - era o que eu ia repetindo dentro da minha cabeça enquanto saia porta fora a toda a velocidade.
E isto foi só o começo.

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