sexta-feira, 28 de maio de 2010

Onde andam pessoas como eu?

Há clubes para pessoas que gostam de fazer barcos pequeninos e enfiá-los dentro de garrafas. E clubes para pessoas que querem atirar bolas de tinta umas às outras. E clubes para pessoas que dobram pedacinhos de papel até lhes aparecerem passarinhos nas mãos,
Acho que é normal querermos ter gente com preferências semelhantes às nossas, por muito peculiares que sejam, para falarmos. Dá-nos uma certa de sensação de "eu não sou assim tão estranha... há mais como eu".
Eu sinto falta de ter com quem conversar, alguém que eu tenha a certeza que não me vá julgar porque já passou pelo mesmo... acima de tudo alguém que pela vida que já viveu me mostre que é perfeitamente possível ser feliz exactamente da maneira como sou.
Então e onde andam essas pessoas?
Onde é que eu encontro um punhado de mulheres que gostem de mulheres e que de preferência vivam muito felizes com o amor da sua vida para ficar um bocadinho mais descansada?

sábado, 22 de maio de 2010

A tirar o curso de lésbica...

Lembro-me de um episódio de Friends em que o Ross vai a casa da Carol e da Susan de lá sai o magnifico diálogo:

Ross: Wow, you guys sure have a lot of books about bein' a lesbian.
Susan: Well, you know, you... you have to take a course. Otherwise, they don't let you do it.

E não é que me dava jeito que isto fosse verdade?
Olha que catita era uma escolinha onde eu me pudesse inscrever, conhecer pessoas que estão a viver algo semelhante a mim, aprender sobre toda uma história de uma comunidade, ir a visitas de estudo...
Bom... há falta de melhor cria-se um blog e vai-se tirando apontamentos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Então e agora?

Então e agora? Falo com alguém sobre o assunto ou nem por isso?
Então e agora conto aos meus amigos ou fico de bico calado?
Então e se contar será que as minhas amigas se vão afastar com medo que eu me esteja a fazer a elas?
Então e os pais?
Então e os avós?
Então e toda a gente?
Então e agora se eu encontro uma rapariga e gosto dela?
Então e como é que raio é que eu sei se outra rapariga pode vir a querer qualquer coisa comigo?
Então e se por muita sorte eu engraço com uma rapariga que até engraça comigo o que é que eu faço?
Não é bom acordar às cinco da manhã com o coração aos saltos porque uma gaja igualzinha a mim me estava a berrar isto aos ouvidos?

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Conclusão

Depois do pânico inicial e de algumas semanas de confusão, finalmente as coisas começaram a aclamar dentro da minha cabeça.
Pouco a pouco fui aceitando o facto de que poderia um dia acontecer haver outra gaja vestida de noiva no meu casamento e que isso me fazia sorrir em vez de ter vontade de lhe arrancar os cabelos.
Penso que para toda a gente é diferente... Há muitas pessoas que são bem mais inteligentes e perspicazes do que eu e não chegam aos 22 anos sem saberem o que se passa por trás da sua própria testa. Há pessoas que só o descobrem aos 74 e ficam contentes da vida e não fazem dramas.
Para mim o que me atingiu com mais força foi o medo de que tudo o que eu considerava essencial na vida para ser realmente feliz se tivesse tornado muito mais difícil.
Aquilo com que sonhava desde pequenina, a noção do príncipe encantado, aquela pessoa que me ia arrebatar e por quem eu me ia apaixonar perdidamente e com quem ia querer ter o casamento com as flores e o bolo e as fotografias, a casa escolhida a dois e os filhos por quem esperava pareciam-me ter-se desvanecido no ar.
Assim que comecei a perceber que não só não tinha tornado as coisas mais difíceis como tinha dado o primeiro passo para tudo isto acontecer deixou de ser tão assustador. Afinal nada do que eu queria ia acontecer se eu não me apaixonasse... e eu não me ia apaixonar até ter dado licença a mim própria para amar quem eu quisesse, independentemente de ter pilosidades na cara ou não.
E assim chegamos ao presente.
É que isto é tudo muito bonito, mas eu não faço a mínima ideia do que fazer com estas novas informações.
Quando finalmente acabei de lidar com os meus macaquinhos do sótão é que reparei na quantidade de babuínos que ainda tinha a saltar pela casa.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Aceitação

Quase duas semanas passadas desde o incidente da piscina finalmente fez-se luz.
Ia no autocarro a olhar para um rapaz que estava sentado à minha frente, ainda a tentar convencer-me que eu só não o achava atraente porque era parva, que tinha a mania que era esquisita e que era por isso que nunca me tinha apaixonado e que o cabelo oleoso e as calças a caírem do rabo não deviam ser impedimento para considerar aquela pessoa como um potencial parceiro quando entrou uma rapariga.
Devia ter mais ou menos a minha idade, talvez um pouco mais velha e era muito bonita. Vinha a ouvir música, um bocadinho alheia a tudo o que se passava à sua volta e assim que se sentou enfiou os olhos num livro e não os tirou de lá o tempo todo.
Não sei se teria um sentido de humor aguçado ou se teríamos os mesmos gostos... mas a verdade é que os meus olhos ficavam muito mais confortáveis pousados nela do que em qualquer homem que fosse naquele autocarro (e eu bem que tinha olhado para eles!).
Finalmente apercebi-me de quão estúpida eu estava a ser.
Afinal qual era o problema?
Por saber que gostava de raparigas ia fazer mal a alguém? Não.
Por saber que gostava de raparigas ia deixar de viver a minha vida? Não.
Por saber que gostava de raparigas ia deixar de ser feliz? Não.
Por saber que gostava de raparigas passava a ser uma pessoa diferente? Não.
Por saber que gostava de raparigas punha em causa algum valor ou principio meu? Não.
Era completamente demente tentar convencer-me a ficar com um rapaz, mesmo sendo ele alguém que eu não achava minimamente interessante ou até alguém que eu achasse repelente só e apenas porque pertencia ao género masculino e isso tornava-no mais aceitável que qualquer rapariga, por mais adorável que ela fosse? SIM! Oh... um grande e gordo sim!
E assim se passaram as duas semanas mais angustiantes da minha vida até agora.

Negociação

As duas semanas que sucederam aquele fim de semana caótico foram quase irreais.
"Se eu não achar nenhuma mulher atraente durante o dia de hoje então não há problema nenhum" e quando isso não resultava passava para " se eu achar pelo menos um homem minimamente interessante, ou giro, ou engraçado então está tudo bem".
Basicamente andei duas semanas a tentar convencer-me a ser " normal", porque toda a gente sabe que estas coisas funcionam assim e não só se "curam" como é possível isso acontecer em 10 dias úteis.
Também gostei da fase em que me tentei convencer a baixar as minhas expectativas, porque obviamente deveria ser esse o problema e era só por isso que eu ainda não tinha encontrado nenhum príncipe encantado.
"Ok... nunca sentiste nada por um homem... mas isso é porque és demasiado esquisitinha... olha, não tem de ser um gajo deslumbrante, inteligente, com sentido de humor, capacidade de ouvir, aptidão para fazer pelo menos 3 coisas em simultâneo e que goste das mesmas coisas que tu para te fazer feliz, vá, abre lá os teus horizontes e não deixes de fora tipos que aches feios, burros que nem uma porta, incapazes de perceberem que estás a ser irónica ou sarcástica, que só olhem para o próprio umbigo, não tenham nada a ver contigo e de preferência machistas até dizer chega".
Quer dizer... que mal tinha eu nunca me sentir apaixonada? Se arranja-se um gajo qualquer casasse e tivesse filhos era capaz de me sentir mais ou menos feliz desde que tivesse pelo menos meia dúzia de pirralhos à minha volta. E cães. Sim, era capaz de viver contente ao lado de uma pessoa porque quem eu não nutria nenhum tipo de sentimentos românticos se tivesse uma camioneta de filhos e um canil para me entreter... E um trabalho fenomenal. Podia ser uma daquelas mulheres que não precisa de realização pessoal porque tem uma carreira fantástica.
É isso, se eu tiver uma carreira fantástica, uma casa cheia de crianças e um canil até posso acabar por me casar com um tipo qualquer que não me vai fazer diferença. A maior parte das pessoas de qualquer forma deixam de estar apaixonadas depois de um par de meses...
Foi aí que me apercebi...

Fúria

Mas que porcaria!
Mas porque é que isto tinha de me acontecer!
Ui.. o drama ocupou grande parte do meu Sábado.
Coitado de quem teve de se cruzar comigo, porque eu estava danada com toda a gente.
Só me apetecia bater com as portas com força e ter alguém a quem poder apontar o dedo, gritar " a culpa é tua!" e mais uma data de impropérios.
Parecia que estava a fervilhar por dentro e já nem sabia bem a razão.
Para me acalmar tentei ver as coisas de outra perspectiva.